Uma morte anunciada

Um artista de carne e osso ao sair de cena depois de uma performance magistral e empolgante é aplaudido de pé pelo seu público e, alvo de apupos e gritos histéricos e pedidos de bis para que retorne ao palco e faça mais uma apresentação para agradar e satisfazer o desejo de seus fãs e admiradores, faz um certo charme de despedida, dá um tempo no seu camarim deixando o público em suspense, mas, para alegria de seus fãs volta em grande estilo e interage com eles para delírio de ambos que numa sintonia de linguagem comum absorvem todos os fluidos de assimilação e alimentação mútua dessa divisão chamada parceria. É a valorização da arte por aqueles que a consomem, que a admiram e dela necessitam para entretenimento, para enriquecer seus conhecimentos em arte e cultura, para desenvolver sua criticidade através da expressão artística do artista e sua obra.
Casarão antigo de Deca Rocha
A mesma regra não se aplica aos equipamentos culturais do nosso patrimônio, de nossa riqueza patrimonial material, nossos casarões antigos que fazem parte da nossa memória, da nossa história e que estão sendo derrubados criminosamente nos feriados e na calada da noite ou numa tarde de sábado insalubre melancólica sob uma garoa fina de um dia extremamente triste e nublado. A mão furtiva, traiçoeira, pegou-nos de surpresa! ceifou com uma adaga cortante, pérfida e cruel mais uma parte da história de Sousa, da memória de Sousa. Sim, a mão do cutelo com toda a sua cegueira derrubou de forma contumaz mais um símbolo de nossa cidade o grande casarão da rua Cel. José Gomes de Sá - palco da revolução de 1930 em Sousa, de grande importância cultural para a história da Paraíba, para a memória de Sousa. Caiu, ruiu, desmoronou, sucumbiu pressionado pela ganância imobiliária, financeira, pela ignorância cultural e insana do progresso com suas instituições falidas e sem recursos para funcionar na proteção do nosso patrimônio cultural, mas, cheia de funcionários ganhando vultosas somas em diárias e hotéis de luxo para não fazer nada e só fechar os olhos, fazer vista grossa para o crime que se comete dia-a-dia contra o patrimônio cultural de nossas cidades. Sousa é o maior exemplo disso, a sua memória está indo ralo abaixo; quase todos os dias um casarão é derrubado e nada se faz para coibir o crime. 
Cadê o IPHAN, O IPHAEP e o escambau de bico? Parodiando Jessiê Quirino na sua obra "comício de beco estreito" foda-se povo, foda-se história, foda-se memória, foda-se os ativistas culturais, foda-se todos aqueles que se dizem contrários à destruição de nosso casario e equipamentos culturais.
Quem é que liga para a cultura de nossa memória, de nossas tradições e costumes? para o nosso passado? para a nossa cultura?
Qual será a próxima vítima? eu não tenho a menor dúvida que será o prédio do Colégio Comercial.
Alguém duvida?
Acorda minha gente! Será que não está na hora da nossa gente desmemoriada à custa da especulação imobiliária e do progresso engessado, erguer a cabeça e lutar pela preservação de nosso patrimônio cultural? de nosso referencial histórico?
Povo sem memória sem história é povo sem passado, sem cultura, sem raízes, sem contexto sócio-histórico político cultural.

Edilberto Abrantes.

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