ISTO/ É/ UMA/ VERGONHA...
W. J. Solha
Pense num concurso de poesia promovido
pelo Governo do Estado da Paraíba, Fundação Espaço Cultural, em que
concorressem Antonio Mariano, Joedson Adriano, Sérgio de Castro Pinto,
Celso Japiassu, José Bezerra Cavalcante, Águia Mendes, Amador Ribeiro Neto,
Astier Basílio, Vitória Lima, Otávio Sitônio, Jessier Quirino, Bruno Gaudêncio,
Bráulio Tavares, Chico César, Lau Siqueira, etc, etc, e o vencedor aclamado
fosse... Augusto dos Anjos.
Pois é exatamente o que acaba de
acontecer com o Prêmio Alphonsus de Guimarães, da Fundação Biblioteca Nacional,
onde eu – com meu Marco do Mundo – concorri com outros cento e tantos poetas, e
o vencedor foi... Carlos Drummond de
Andrade, falecido - pra quem ainda não sabe - em 17 de agosto de 1987!
Poderíamos parar aqui: o absurdo é um
escândalo da má fé, pois pra três intelectuais nomeados para tal função e por
tal entidade, não tem cabimento a hipótese de inocência. Má fé que tem
tamanho descaramento, tamanha ousadia, porque vê que a impunidade está solta e
na iminência de receber faixa e coroa de Miss Brasil ( Dilma que se
cuide, pois a corte da bandida é cada vez maior, e já está enorme e poderosa ).
Mas como nossas leis são cheias de firulas, de cujo conhecimento vivem milhares
de rábulas à disposição de criminosos de todos os níveis, é bom deixar
claro que o regulamento constante do edital assinado por Galeno Amorim,
presidente da Fundação Biblioteca Nacional, é de uma clareza absoluta, como se
previsse um atentado desse:
Item 2.3. As obras deverão ser
inscritas pelo autor, de acordo com as categorias premiadas. 2.3.1. As
inscrições por intermédio de editoras serão permitidas como forma de
assistência ao autor apenas mediante autorização por escrito deste, que deverá
ser anexada à ficha de inscrição.
Alguém psicografou Drummond. Se ficar
por isso mesmo, no ano que vem psicografará Castro Alves. No outro, Cecília
Meireles. Aí virão João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Mário Quintana,
Paulo Leminski, Olavo Bilac... e por que não entrar na parte do concurso
envolvendo outros gêneros - o romance, por exemplo -, derrubando qualquer autor
vivo com Guimarães Rosa, Graciliano, Zé Lins, Machado, Érico Veríssimo, Clarice
Lispector, Jorge Amado, Lima Barreto, Mário de Andrade, Raquel de Queiroz?
Já venci vários concursos nacionais e
perdi uma infinidade de outros. Marcou-me a infância o poema “Se”, de Kipling,
que, lá pelas tantas, diz que Se conseguires tratar derrota e triunfo – esses
dois impostores - da mesma forma, etc, etc, és um homem, meu filho. OK, mas vá
ser impostor assim no inferno!
*Escritor, Dramaturgo e Cineasta.
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