Que mundo é este?

Este mundo que vivemos, não é o mesmo mundo do tempo dos romanos? que jogava seus pares na cova dos leões, e que atirava seu povo à fúria incontida e faminta às feras, homens e gladiadores dos circos romanos perdedores que tinha seu destino selado com a morte entre os dentes das feras ou sob a espada, a lança ou a adaga que dilacerava seus corpos de  forma brutal, penalizados com o castigo do império romano aos perdedores nas arenas de Roma.
E hoje? Um mundo antropofágico que consome  a carne da carne humana na crueldade com a mesma voracidade que chora seus mortos, que gera seus filhos, que joga seus filhos ao infortúnio unindo tristeza e alegria e desespero com seu circo de atrocidades num moto contínuo assustador. Na crueldade do mundo resume toda a infelicidade do homem que vive na instabilidade da sua vida inconstante, refém de leis e costumes adversos ao cidadão e ao seu bem estar.
A lei e a justiça passaram a ser uma normativa para atestar a incompetência dos tribunais e a fragilidade das instituições que fecham os olhos para o aumento da violência na sociedade, para a falência do Estado, e o descrédito nas leis e no sistema.
No Brasil há sempre um jeitinho para tudo. Na semana passada em um jogo do Corinthians em Oruro na Bolívia, um adolescente de Catorze anos de idade foi morto por um sinalizador marítimo atirado pela torcida  do time brasileiro causando a morte do pequeno torcedor, que foi ao estádio para torcer e não para morrer. Morreu vítima de um irresponsável que acendeu um sinalizador em sua direção e fatalmente tirou-lhe a vida de forma brutal e cruel. A quem culpar? à torcida corintiana com mais de uma centena de torcedores presentes ao estádio? a quem vendeu o artefato? a quem deixou o artefato passar na portaria do estádio? a quem atribuir a culpa? quem é o culpado pela morte do garoto, os doze presos que ficaram numa cadeia boliviana chorando noite e dia com medo de morrer via polícia boliviana ou linchados pela população? Não!
 - Nós temos a solução! Um jovem de Dezesseis anos assumiu a culpa, foi ele, foi ele sim quem lançou o sinalizador!
Divulguem na mídia. Mandem para a Globo, mandem para a Internet, nós achamos o culpado! Certo?
Aí, o jovem foi a mídia e assumiu a culpa e tudo se resolve aqui, não? Errado!
Na Bolívia, segundo as leis de lá, um jovem de Dezesseis anos é passível de crime como qualquer outro, pois, lá só não vai para a cadeia até os Quinze anos. Então? ferrou-se quem pensa enganar a lei e encobrir os verdadeiros culpados. Outra coisa, não existe tratado de extradição de presos entre a Bolívia e o Brasil.
Um coisa é certa, nem o Brasil vai mandar o adolescente de Dezesseis anos para a cadeia boliviana e nem a Bolívia vai soltar os doze torcedores e cidadãos brasileiros que estão mofando e se cagando de medo de morrer nas fétidas prisões bolivianas.
Aqui, todos nós sabemos que quando se comete um crime seja à sangue frio ou não; quando se comete um assassinato seja o crime hediondo ou não, procura-se logo atribuir a autoria do homicídio a um doido, um maníaco, um doente com transtorno mental, ou a um adolescente com idade variando entre dezesseis anos e vinte anos com o objetivo de fugir a responsabilidade de pagar pelo crime e se safar da cadeia. Neste país chamado Brasil a lei infelizmente não é cumprida. Aqui as pessoas que matam saem rindo dos tribunais. Debocham da polícia, da justiça e da sociedade. Não há como afirmar que a constituição brasileira garanta igualdade, totalidade e universalidade de direito. As instituições que abrigam adolescentes espalhadas pelo país, são verdadeiras escolas do crime e da disseminação do uso indiscriminado das drogas. As rebeliões são constantes, e os combates internos entre os adolescentes são diários e não raras as vezes com morte, em virtude da entrada de armas e drogas nas instituições.
Lembrando o famoso verso do grande poeta paraibano Augusto dos Anjos:
      "Acostuma-te à lama que te espera!
       O homem, que, nesta terra miserável, 
        mora, entre feras, sente inevitável
        necessidade de também ser fera."
Augusto dos Anjos estava à frente do seu tempo em relação aos seus contemporâneos ao definir com precisão a índole humana e a sua necessidade de fugir das regras, de tudo que é lícito em função de suas próprias fraquezas, usando meios ilícitos ou não para alcançar seus objetivos.
Eita, mondo Cane!

Edilberto Abrantes.

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