A VIDA NÃO É UM GAME

          Marco Antônio nunca havia beijado na boca, apalpado umas ancas femininas, encostado uma menina no muro da escola. Jamais fora protagonista de encouchada numa menina dentro de um busão ou no metrô. Nada de paquera física, olhares furtivos, de relance, olhar 43, nada que mostrasse-lhe o mundo real, sem o toque da fantasia, da ilusão como ele costumava ver através dos quadrinhos de seus mangás e  da ficção de que era leitor assíduo. Vivia profundamente à base de Todynho e biscoitos recheados, pipoca e salgadinhos que era sua alimentação básica para um moleque de 15 anos sustentado e provido pelos pais. Era relapso na escola. Indisciplinado. Aluno problema. Jogos virtuais, Games era sua diversão. Vizinho estranho, não tinha amigos na rua onde morava. Passava horas e noites no celular, era internauta. Vivia conectado nas redes sociais que achava um mundo interessante feito por gente inteligente e que interagia com desenvoltura a um simples toque de tela.

        Conheceu uma gata pela internet que tinha tudo haver com ele. Direta, objetiva, legal. Precisavam se encontrar, não via como. O dinheiro em casa era curto. Não recebia mesada. Não tinha cartão de crédito, conta em banco, conta virtual. O amor estava distante a 1.500 km. Não dava para ir de bicicleta., único transporte que dispunha. Convencer os pais que tinha uma namorada distante, com certeza iam rir dele. Chamá-lo de demente, retardado, fora do eixo da realidade. A gatinha queria vê-lo de qualquer jeito, nem que fosse viajando no trem de pouso de uma avião da Azul ou no convés de navio cargueiro. Precisavam tornar físico aquele amor virtual que os aproximaram via redes sociais.

        Marco Antônio vendeu o carro do pai e quando arrumava as malas para fugir, foi surpreendido pela mãe que avisou o pai. Marco Antônio como um estranho, um frio indivíduo que tinha como único objetivo seguir em frente rumo ao seu amor, correu até onde o pai guardava uma arma e ao tê-la em mãos apontou para a mãe e atirou entre seus olhos marejados de sofrimento, o pai veio ao seu encontro e foi alvejado simultaneamente. Seu irmão que engatinhava choramingando foi exterminado pela mão criminosa de outro irmão que em nome de uma ilusão praticara um crime hediondo matando toda a família em nome de um sentimento que ele não conhecia.

        Fechou a porta de casa e saiu apressadamente sentindo-se o protagonista de uma história trágica vista todos dias nos games que jogava no seu PC.

A vida não é um jogo.


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