O Peru de Natal

Rapaz, pense num bicho difícil de se arranjar na panela é um peru de natal! corri vários supermercados da cidade em busca desse objeto de prazer das noites tradicionais e ceias de natal, e para o meu desespero não encontrava o famoso exemplar de boa comida e objeto de prazer, mesmo a R$: 15,00 o Kg. 
Manifestei fazer greve e comer bife ou buchada de bode o que não agradou a minha mulher que bradou: 
- Na minha cozinha na noite de natal, não! se não fou perú, não entra!
Aquilo era uma guerra declarada. Onde será que eu iria encontrar peru para a noite de natal? Entrei em um supermercado e o peru estava sendo disputado a tapa. Era uma guerra gastronômica pelo bem da tradição de Papai Noel que mesmo sem comer e sem beber nada, causava frisson nas pessoas que levando ao pé da letra os estímulos da mídia televisiva brigavam por um peruzinho no forno na noite de natal.
O jeito era sair pelos matos e tentar matar um perú no seu habitat natural, ou seja nas matas; mas, o peru não é originário da América do Norte? sim, era leseira minha... o jeito era assaltar o galinheiro do vizinho e garfar aquele peru engordado com milho no papo todo santo dia e depois embriagado com cachaça de véspera para amaciar a sua carne.
Eu gosto de peru, só não gostava do seu glu glu no quintal lá de casa quando minha mãe criava para enfeitar as nossa noites de natal! Naquele tempo peru sobrava nas mesas brasileiras, nordestinas, sertanejas! Hoje não, é todo mundo de moral baixo, sem peru para comer no natal, um desrespeito à tradição natalina. Não se respeita mais o natal. O que se ver muito é cachaça e cachaceiro. É bebida e bagunceiro. Refeição mesmo virou uma coisa de televisão. Só nos grandes hotéis é que se ver ceia de natal, peru de natal, chester, tender, champagne, mesa de frutas, de frios, de doces, de tudo quanto é guloseima para quem pode pagar, pois quem não tem só vai ver em capa de revista ou jornal, ou pela internet ou pela televisão!
Inclusive eu que não achei peru. Errado, achei o meu peruzinho e o dividi no empurrão com um sujeitinho safado que queria me convencer que por ser o único ele teria direito, pois, era aposentado, encostado pela Previdência há 30 anos e a lei lhe facultava este direito; tinha ordens médicas que o credenciava a não ficar sem o perú de natal; se o deixasse sem peru, eu o estaria discrimando, configurando meu ato como exclusão social e aquelas balelas de um sujeito folgado, balofo querendo me enganar. Mandei-o copular consigo mesmo; queria peru no natal eu lhe daria não a ave, mas, o meu, trouxa!
Levei o peru para casa e a minha mulher se acabou nele numa ceia inesquecível. Peru bom não faz glu glu!
Eita peru para render.

Edilberto Abrantes.

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